faculdade (fa.cul.da.de) s.f. 1. Capacidade inata ou adquirida. 2. Aptidão intelectual ou física: O homem tem a faculdade de falar, as aves de voar. 3. Propriedade das substâncias: O ímã tem a faculdade de atrair o ferro. 4. Estabelecimento superior de ensino: faculdade de Medicina.
No mundo, as universidades são reconhecidas como centros de excelência de ensino, sendo consideradas geradoras de inovações tecnológicas e pesquisas revolucionárias. No Brasil, esta prática, tão comum em ambientes acadêmicos europeus e norte-americanos, não se faz tão presente quanto deveria ou poderia. Enquanto que no exterior é de praxe a experimentação de novas estruturas, formas, estilos e soluções arquitetônicas dentro das faculdades - uma vez que o local se caracteriza por ser um estabelecimento de ensino, representando a excelência intelectual de uma área profissional -, no Brasil as faculdades atualmente não oferecem, em sua maioria, possibilidades entusiasmantes de criação de conhecimento durante as aulas da graduação (principalmente as cadeiras de Projeto Arquitetônico) e nos laboratórios de pesquisa acadêmica.
Muitas faculdades brasileiras ensinam uma arquitetura que começou a ser realizada, na melhor das hipóteses, em 1970, com as edificações de Aldo Rossi (ganhador do Pritzker em 1990), a qual é chamada de arquitetura racional, inspirada pelos projetos que começaram a ser desenvolvidos por volta de 1915 (quando se iniciou o Movimento Moderno), por arquitetos como Le Corbusier e Mies van der Rohe (MONTANER, 1992). Não é a intenção deste texto discutir a qualidade dessa arquitetura, mas ela sem dúvida fez parte de uma época marcante para essa profissão e até hoje é desenvolvida no Brasil e nos países da Europa. Apesar da importância que esse movimento tem, outros estilos de arquitetura foram criados ao longo da história, tendo importância no cenário internacional, como o pós-modernismo de Robert Venturi (ganhador do Pritzker de 1991) e o neo-construtivismo do escritório OMA, representado pelo holandês Rem Koolhaas (ganhador do Pritzker de 2000).
Apesar do sucesso de outras arquiteturas, os graduandos das faculdades de Arquitetura têm contato com uma política de estudo quase exclusivo do "Movimento Moderno" e da "Arquitetura Racional", sendo este estudo muitas vezes baseado na constatação de que a arquitetura não pode ser ensinada (defendida também por Helio Piñón, Peter Eisenman e Wolf Prix). Dessa forma, as aulas se baseiam na mostra - quando ocorrem - de projetos famosos do Movimento Moderno (aquele de 1915) e da arquitetura racional atual. Não é necessário colocar em dúvida a importância do conhecimento dos alunos de edificações como o Seagram Building e a Casa Farnsworth de Mies van der Rohe, a Maison Domino e as Unidades de Habitação de Le Corbusier e a casa Schröder de Gerrit Rietveld, mas o que acaba ocorrendo nas práticas de projeto é a não-discussão sobre as vantagens e desvantagens de um determinado estilo arquitetônico, e infelizmente, a não-criação de novas soluções para os problemas projetuais.
Com esse panorama, o estudante não se vê em um ambiente pró-criação e experimentação, e sim em um local de sistemática repetição do "já visto", a composição de elementos pré-estabelecidos em um prédio com um novo programa, o que foi um dos principais problemas da primeira geração do Movimento Moderno (MONTANER, 1992). O resultado final do aprendizado ao longo da faculdade é visto no Trabalho Final de Graduação (TFG), quando os graduandos expõem o que deve ser o projeto de maior qualidade e a mostra de sua identidade formal individual. Infelizmente, olhando cada um dos resultados se constata a falta de grandes divergências de repertório da maioria, não querendo afirmar falta de qualidade, mas falta de novidade com embasamento teórico.
Após a formatura, o arquiteto recém-formado se depara com um mercado competitivo, que pratica - para citar um jargão comum dentro das faculdades - uma arquitetura comercial, a qual é rechaçada pelos núcleos de professores. Assim, resumidamente, o ex-aluno da graduação não está preparado nem para novos estilos de arquitetura, praticados por diversos escritórios europeus e norte-americanos - como o UNStudio, Foreign Office Architects e Zaha Hadid Architects -, nem para a arquitetura - de qualidade ou não - praticada nos grandes centros como Porto Alegre. Como não houve a já falada experimentação, o jovem arquiteto se vê na obrigação de criar seu próprio repertório inovador diretamente para ser construído, o que o leva para experiências com resultados muitas vezes equivocados formalmente.
Com base nisso, a disciplina eletiva Atelier Material tem como propósito principal a aplicação de exercícios que visem à exploração da matéria como ferramenta de elaboração formal, com base na busca pela definição das sensações provocadas em cada sentido e por novos materiais - construtivos ou não -, além da experimentação de mudanças de escala e uso, além da criação de sequências de manipulações e, por fim, a criação de uma instalação. Dessa forma, este conjunto de exercícios tentam diminuir a distância entre os alunos de arquitetura de Porto Alegre e os de países norte-americanos ou europeus para que, quem sabe um dia, termos uma outra "arquitetura brasileira", como um dia foi o Modernismo.
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